Cerca de 600 pessoas transformaram o Centro Cultural Unimed-BH Minas em um lugar de encontro, afeto e histórias compartilhadas na noite do último dia 3. O lançamento de O nome disto é vida, sétimo livro da escritora mineira Leila Ferreira, foi muito mais que uma noite de autógrafos: foi uma conversa profunda e calorosa, que misturou gratidão, descobertas e a leveza de quem fala do que realmente importa.
No palco, em um diálogo descontraído com Jozane Faleiro, do projeto Sempre Um Papo, Leila foi costurando as memórias afetivas que deram vida às páginas de O nome disto é vida. A obra foi construída a partir de 22 entrevistas, realizadas em 9 países, com uma lista de personalidades que inclui grandes pensadores dos nossos dias e pessoas com trajetórias únicas, representativas de seus locais de origem
Os bastidores que deram vida à obra
A teia de conexões que deu origem a O nome disto é vida foi tão orgânica quanto os temas do livro. Alguns entrevistados eram velhos conhecidos, outros foram apresentados por amigos, e houve ainda aqueles que ela abordou com a coragem mineira que lhe é peculiar, apresentando-se diretamente e compartilhando sua proposta.
A dedicação de Leila em mergulhar na essência de cada história foi tão profunda que, para entrevistar o filósofo Gilles Lipovetsky, na França, ela não mediu esforços: mergulhou em um curso de francês, determinada a capturar cada nuance daquela conversa diretamente, sem barreiras.
A constante busca pela autenticidade dos relatos era uma questão de método. Quando um dos nomes internacionais se ofereceu para vir ao Brasil para a entrevista, tamanho seu carinho pelo país, Leila foi firme em seu propósito: queria conversar com cada pessoa em seu próprio habitat, cercada pela rotina que dava significado à sua vida.
Vínculos frágeis e as memórias que ficam
Foi assim que, com a escritora e psicóloga Susan Pinker, Leila aprendeu na prática sobre os weak bonds, ou vínculos frágeis. Susan a levou para uma caminhada por sua vizinhança em Montreal, mostrando o local onde treina natação, o café que frequenta e a mercearia onde faz compras. A psicóloga explicou que esse emaranhado de interações superficiais, mas consistentes, compõe uma rede de apoio e pertencimento tão vital quanto os laços familiares.
E foram justamente os laços mais profundos que emocionaram a todos em outros relatos. Ela relembrou um ensinamento pessoal do escritor Mia Couto, que aprendeu com a mãe a respeitar a própria tristeza. Para Leila, este é um contraponto profundo e necessário à positividade tóxica dos nossos dias.
Outro momento de pura emoção foi o relato de sua visita a Vera Eunice de Jesus, filha da eterna Carolina de Jesus, no sítio em Parelheiros onde a autora de Quarto de Despejo viveu seus últimos anos. Uma verdadeira jornada de resgate e afeto.
A lição que fica de todos esses encontros é que, no fim das contas, podemos e devemos criar nossas próprias vizinhanças, nossos territórios afetivos. Uma filosofia que se casa perfeitamente com a alma do trabalho de Leila, reverberando tudo o que ela prega: a importância das pausas, das conexões que nos ancoram e de dar espaço para todas as emoções, sem que as difíceis nos definam ou limitem.
Um final que era apenas o começo
Se o evento no palco foi sobre a teoria da vida, o que se seguiu foi a prática pura do afeto. Logo após o encerramento, Leila se dirigiu ao saguão do teatro e, cercada por uma fila de leitores com seus exemplares novos em mãos, dedicou as horas seguintes a trocar algumas palavras, um olhar, um agradecimento pessoal com cada pessoa que foi até ela.
Foi a cena final de uma noite que, como o próprio livro propõe, mostrou que a vida se faz mesmo é desses encontros – sem pressa, sem firulas, e com o coração aberto para o que vier.




